sexta-feira, 28 de maio de 2010

Os verbos ser e fazer seriam um só,


eu sou a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva a noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má.

Que acha quase todo mundo, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia boca. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca. Existem duas pessoas em mim. O que faço e o que sou. Mas são almas feitas para serem somadas, não subtraídas. São pessoas diferentes que, aos olhos de muitos, são absolutamente iguais.

No entanto, tamanha semelhança não justifica tanta confusão. Caixas cheias, contendo toneladas de decepções são empilhadas a cada vez que o que eu faço entra em conflito com o que eu sou. Meu conselho para hoje é: que deveria-mos viver com a certeza de que tudo vai passar. Você acha que não vai aguentar, mais aguenta. Sei que da vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo, como foi dito por Fernando Pessoa: “Hoje não há mendigo que eu não invejo, só por não ser eu”. Mas passa, tenha certeza disso, até uva-passa. Volta e meia bate a vontade de encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Então apenas perceba que do inicio desse texto, para o fim, mesmo que pouco, tanta coisa já mudou, e o inicio já virou passado. Cá está à prova que não sou apenas uma, de que tudo passa, até uva-passa.