domingo, 18 de fevereiro de 2007

Sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Em uma tarde dessas sem nada para fazer, encontrei uma revista Capricho, aquela revista idiota, com dicas fúteis para adolescente inseguras, e que trás consigo seus textinhos idiotas (lembrando que a mesma, era minha, a qual eu só tenho por uma entrevista com uma banda de rock da qual eu gosto muito). Bom e por um breve momento encontrei vida inteligente nela, essa texto aí a baixo de Antonio Prata que é depois de José Simão (Macaco louco) um dos caras mais criativos, quando a questão é, tirar onda da realidade maluca em que vivemos, com uma boa dose de sarcasmo , criatividade e muito bom humor. E é com esses caras que eu me acho a mais normal de todas as criaturas...

Duendes, Pipocas e Gafanhotos.

By Antonio Prata

aprata.abril@capricho .com.br

Nada, nem os devaneios mais delirantes, se compara ao absurdo da realidade.

Dizem os antropólogos que a humanidade criou os deuses quando teve a consciência da morte. Diante da inaceitável finitude da existência, inventamos um outro mundo, para onde iríamos depois deste, e um ser superior que seria o grande maestro do universo. Uma espécie de pai que nos afaga a cabeça, no meio da noite, e diz: “dorme tranqüilo, amanhã começa tudo outra vez”.

Discordo. Acho que Deus surgiu assim que o primeiro homem, diante do fogo, viu o milho virar pipoca. A morte é compreensível, a pipoca não. No momento em que, diante dos olhos estupefatos de um ser peludo, aquelas bolotas amarelas explodiram e se tornaram uma espécie de flor de isopor, minicogumelo atômico comestível, o cara se deu conte do absurdo do universo e, incapaz de explicar tão bizarro fenômeno, apelou ao sobrenatural. Se a pipoca existe, então tudo é possível.

Digo essas coisas porque costumam comentar que escrevo textos muito loucos, absurdos. Respondo, em minha defesa, que meu pensamento mais desvairado e criativo jamais chegará aos pés da doideira que é a realidade. Há momentos, inclusive, diante de certos fatos que presencio ou noticias quer leio, que tenho vontade de desistir. Competindo com a realidade, a literatura será sempre pouco criativa, pálida cópia, quase sem graça.

Ontem, por exemplo, voltava para casa de um jantar e peguei uma avenida movimentada de São Paulo, para às 10 da noite. Estranho. Vejo então, adiante, umas luzes e muita fumaça. Os carros vão andando, lentamente, e vislumbro uma espécie de trio elétrico natalino, com duendes e fadas pulando em cima, tocando uma versão remix de Jingle Bell, alto o suficiente para acordar as renas do Papai Noel lá no Pólo Norte. Que cazzo aquilo fazia ali? A fumaça, pensei, era gelo seco, parte do espetáculo. Logo vi que estava equivocado. Bem ao lado do trio elétrico natalino, alguns homens lutavam com extintores para apagar o fogo do motor de um carro.

Fiquei imaginado se a mulher do infeliz (ex) motorista liga para ele na hora, ele tentando explicar que o carro estava pegando fogo, com aquele Jingle Bell bombando logo ao lado... E a raiva dos duendes e fadinhas? Se ele tirasse um rifle e começasse a abater os seres mágicos do trio elétrico, eu o compreenderia.

Com todas essas idéias na cabeça, sentei-me hoje, diante do computador, para escrever esta coluna. Abri a internet. A manchete do uol era: “Milhões de gafanhotos invadem o Cairo, no Egito”, e uma foto mostrava a aterrorizante nuvem de insetos, em meio aos prédios. Depois ainda perguntam de onde tiro as minhas idéias. Gente, o mundo é estranho. Basta olhar as pipocas.


comentarios, criticas ou qualquer coisa do tipo para: lila_guita@hotmail.com